O tradicional Dia do Índio, comemorado em 19 de abril, foi renomeado oficialmente para Dia dos Povos Indígenas, conforme a Lei 14.402 de 11/07/2022. A mudança do nome da celebração, que ocorreu com a aprovação do PL 5.466/2019, que revoga o Decreto-Lei 5.540 de 1943, objetiva explicitar a diversidade das culturas dos povos originários. Antes da chegada dos europeus, habitavam o continente americano diversos povos designados povos originários. Segundo estudos, em 1491, o hemisfério americano tinha uma população entre 90 milhões e 112 milhões de indígenas.
No que hoje é o Brasil, as estimativas mais recentes apontam que viviam entre 10 milhões e 15 milhões de indígenas. O processo histórico de construção dos laços culturais dos povos indígenas tem apontado que estes povos conviviam entre si, conheciam-se uns aos outros, apesar das grandes distâncias, pois compartilhavam de vários aspectos culturais e sociais. Isso se dava devido aos grandes sistemas de caminhos e estradas ramificadas entre o Atlântico e o Pacífico (Capac-ñans, Peabiru, Mairapé e Nhamíni-wi), além do uso de vias fluviais das grandes bacias hidrográficas Amazônica, Orinoco, São Francisco, Tocantins-Araguaia, Paraná e Prata como rotas de deslocamento. Os contatos entre as civilizações pré-Incas, Incas e amazônicas (Mojos, Omáguas, Tapajônicos, Xinguanos e Marajoaras) realizavam um extenso comércio plumário por meio de rotas e de um sistema de trocas, além da disseminação da terra preta de índio, um tipo de solo rico em compostos orgânicos. Pesquisas têm revelado esses deslocamentos, em especial as migrações Tupi-guarani em busca da Terra sem Mal (terra onde não haveria fome, guerras ou doenças). Esse deslocamento pode ter, inclusive, promovido uma grande movimentação de povos, contribuindo na disseminação de mitos ou lendas, como Pay Sumé e o Gran Paititi, este podendo ter um protótipo histórico.
O Museu Julio de Castilhos tem um grande acervo etnológico dos povos originários do Rio Grande do Sul, Brasil e América do Sul que está na exposição Memória e Resistência. Entre os objetos deste acervo destacamos a Máscara Kalapalo, a pegada do Pay Sumé (representação de mitos e lendas ao longo do continente), o Leque de Penas (comércio plumário com a utilização dos sistemas de caminhos e as rotas fluviais), Boleadeira Mamilar (cultura disseminada pela região do Prata por rotas e caminhos ramificados) e o Tambor Wari (musicalidade encontrada na América do Sul e Brasil) como exemplos dessa antiga integração cultural, indicando que esses tipos de peças eram trocadas entre os povos que as produziam. Com a cocuradoria de indígenas do RS, a exposição tem como propósito a preservação da memória e resistência refletindo sobre o passado de dominação e conquista das civilizações europeias no continente americano.