Ao se falar sobre Educação Patrimonial em museus lembro-me de um caso bem interessante, certa vez veio ao museu um grupo de adolescentes, em idade escolar, com o objetivo de fazer um trabalho de História. Mas este trabalho de história não consistia apenas em realizar uma pesquisa comum, como coleta de dados sobre as exposições e peças do museu, estes que seriam, a princípio, afazeres mais tradicionais esperados de uma tarefa como esta.
Na sua vinda ao museu, os jovens, queriam gravar uma espécie de novela de época e o cenário escolhido foi o Museu Julio de Castilhos, mais propriamente a sala Julio de Castilhos, sala que expõe objetos pessoais e políticos que falam sobre o antigo dono da casa, vivente durante boa parte do século XIX, Julio de Castilhos. Ao lembrar deste fato muitas indagações me vêm à cabeça, e a principal delas: Queriam os alunos gravar na sala Julio de Castilhos somente porque os móveis e retratos que estão lá parecem ou remetem a uma época mais antiga? Acredito que esta seria a mais simples e óbvia das pressuposições. Mas, nem por isso, se pode dar uma resposta tão simples assim ao porque da visita dos alunos. Complexificar a questão para responder a esta ação seria um bom ponto de partida para entender mais da relação intima que eles tiveram com a sala a ponto de a mesma servir como cenário para uma época a qual eles queriam se remeter e, de fato, esta relação foi mais além do que apenas uma busca de um cenário do passado. Isso se verificava no momento da execução do trabalho. A maneira que eles se vestiram para gravar a novela, digna de um figurino de produção televisiva, com roupas mais formais, e mais largas do que eles, talvez pertencentes ao pai ou mesmo ao avô, agregado igualmente a postura de fala formal que adotavam no momento de gravação do trabalho, demonstram a forte influência que a disposição da sala, o estilo dos móveis, aliada a pose séria das pessoas dos retratos, passaram para a interpretação deles fazendo com que incorporassem, ou pelo menos tentassem, o comportamento que eles acreditavam ser o do período ao qual buscavam representar.
Toda esta história me fez pensar como um objeto ou, como no caso, uma sala composta com objetos do século do XIX, expostos no museu, poderia, de certa forma, fazer com que aqueles alunos fizessem todo um juízo de valor sobre o cotidiano e os costumes de uma época passada. Apesar de nós, por uma convenção de enquadramento social não conversarmos de fato com os objetos. Todavia, mais do que a gente pensa os objetos, mesmo sem a gente perceber, conversam conosco.
Gabriel Costa
Equipe Técnica
Museu Julio de Castilhos