Por MHJC/Letícia Heinzelmann
Ao longo do mês de novembro, os jovens indígenas participantes do projeto de mediação cultural "Saberes e Memórias: interlocução museu-aldeias”, do Museu de História Julio de Castilhos (MHJC), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), e da Associação dos Amigos do Museu Julio de Castilhos (AJUC), estão realizando uma experiência prática no MHJC. Os alunos conduzem visitações à exposição "Memória e Resistência", que apresenta peças e narrativas de povos indígenas, para suas comunidades e escolas agendadas.
A formação de mediadores culturais por meio do projeto “Saberes e Memórias” é exclusiva para indígenas residentes na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os estudantes são originários de dez aldeias Kaingang e Mbyá-Guarani, de cinco municípios: Barra do Ribeiro, Cachoeirinha, Porto Alegre, São Leopoldo e Viamão. Na sexta-feira (8), as cursistas Audisséia Nascimento Padilha e Letícia Batista, da aldeia Kaingang Gãh Re, localizada no Morro Santana, na capital, tiveram a oportunidade de mediar a mostra para sua cacica, Iracema Gah Té, e outros membros da comunidade.
Pela manhã, a mediação foi conduzida nos idiomas kaingang e português. A cacica Iracema é parceira do Museu desde a concepção da exposição, que atualmente conta com uma fotografia sua, e auxiliou as jovens na construção da apresentação. Para Letícia, que já recebia visitantes em sua aldeia, o curso é uma oportunidade de aprimorar o discurso: “nossa aldeia é acolhedora, a gente recebe bastante gente, de diversos lugares, então estamos um pouco acostumadas, mas é diferente com a formação. A gente aprende até a escolher melhor as palavras, para explicar nossos objetos e rituais, que a gente sabe o que são, mas nem sempre sabe explicar”, ressalta.
Ainda na sexta-feira, à tarde, elas apresentaram a exposição para alunos do Ensino Fundamental de Porto Alegre. Audisséia revelou que ficou um pouco “nervosa” com a expectativa de mediar para não-indígenas, “mas é importante que as crianças possam conhecer nossa cultura por nós, e um pouco da nossa realidade, em contexto urbano”, aponta.
Sobre o projeto
Com início em outubro de 2024 e previsão de término em abril de 2025, o projeto “Saberes e Memórias: interlocução museu-aldeias” conta com aulas sobre museus, patrimônio, conservação, exposições e mediações, ministradas por formadores indígenas e não-indígenas, no MHJC e outros espaços de preservação cultural de Porto Alegre. A troca de saberes com os estudantes busca qualificar o trabalho do Museu, que tem em uma de suas principais exposições, “Memória e Resistência”, o foco na temática indígena. Além disso, objetiva proporcionar uma formação qualificada, a fim de favorecer iniciativas que valorizam a cultura, os conhecimentos tradicionais e os patrimônios indígenas, fortalecendo as comunidades e gerando fontes de renda alternativas.
Além de bolsa de R$ 1,6 mil, cada jovem selecionado para o projeto tem direito a auxílio-alimentação, transporte e certificado de 60 horas. “Saberes e Memórias" conta com recursos da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar 195/2022), iniciativa de incentivo à cultura que estabelece um fundo destinado ao financiamento de projetos culturais, apoio e manutenção de espaços culturais e capacitação.