A Desconstrução da Construção da Expografia

Ao adentrar no Museu Julio de Castilhos, podemos perceber que sua expografia é densa e acumulativa, trazendo muitas informações importantes, mas expostas de uma forma ainda pouco atrativa. Seus objetos encontram-se ainda limitados por uma ordem sequencial, apenas perfazendo correlação com os textos históricos de forma mais tradicional, sem interpor novos mecanismos de interatividade, e assim tornando-se estático.
Diante desta perspectiva, desafiei a equipe do MJC, a desconstruir, construindo por meio de outras significações e abordagens, o simbolismo histórico de seu acervo, e contextualizado novos protagonistas perante a cena museal, e  desta forma, repensar a expografia. Como bem ressalta (RODRIGUES apud MENEZES) "[...] conceber um museu histórico, não como a instituição voltada para os objetos históricos mas para os problemas históricos", trazendo para o museu a reprodução social, tanto de constituição, quanto de formação para um recorte específico de tempo na história.
A partir desta provocação, percebemos o desafio de pensar a expografia como forma de desconstruir uma amostra estática, e reconstruir um novo discurso que atue no campo da cidadania cultural, evidenciando a invisibilidade que o conceito do feminino tem sobre o esteriótipos, e assim por escolher como tema da exposição "Tecendo Memórias do Feminino", para que se exemplificasse uma tecitura social mediadora de ancestralidade, e de conjecturas que retratam a mulher por meio das mais diferentes linguagens culturais, como as fotografias, as músicas, as poesias, os objetos e os tecidos.
Da exposição vieram a mobilidade que as linhas oportunizaram, servindo de suporte para transpor e propor movimento, ao mesmo tempo em que recebeu contribuição, enquanto se fez de varal. Das disposições das letras e das formas a instigar a desacostumar o olhar de um mesmo angulo comum, e a forçá-lo a buscar cada vez mais a informação. Da sensibilidade que a música provoca, ao registrar parte da história das mulheres. Das fotos sem etiquetas, que permite a cada visitante, a sua própria interpretação daquele momento, sem criar rótulos pré determinados ou fetiches sobre determinada imagem, mas possibilitando uma imprevisibilidade sobre a visão como afirma (VIOLA, 2007. p.119) “[...] pode ser tão arriscado como caminhar sob neblina que de tão densa dificulta o olhar e a compreensão do espaço que nos cerca. Corre-se o risco de não ver o que está a um passo a frente e mesmo que, após esse passo, apareça uma porta, e com ela, a possibilidade de aberturas ou saídas firmes, existe, também a possibilidade de encontrar pátios murados, isolados.”
Mas aceitamos correr o risco de ver e se rever, através de uma imagem, e sua construção sobre o feminismo, pois isto traz um caráter estético de renovar nossas concepções, acerca de como percebemos a si, ao outro e ao mundo. Pois na verdade suscita o sentimento de "vontades de memórias" como afirma (VIOLA, 2007. p.119) novamente “[...] conhecer o lugar, do qual se olha e o efeito de se colocar em dúvida conhecimentos e certezas, questioná-los a partir das condições próprias do ambiente em que se vive. Por se apresentar como fenômeno multifacetado, exige, para sua compreensão, não só repensá-lo no interior de um horizonte histórico, mas que a este horizonte histórico se incorporem às noções de complexidade manifestas na cultura politico-social de uma sociedade que produz (e reproduz) a comunidade e a sociedade de direitos.”
Enfim, repensamos pelas funções museais, uma nova proposta de museu, mais dinâmico e interativo, e que reconheça todos os suportes e linguagens que permeiam a atribuição de reconhecimento histórico, como forma de produzir conhecimento.
Eis a exposição "Tecendo Memórias do Feminino".

Joel Santana
Diretor do Museu Julio de Castilhos

Referências Bibliográficas
RODRIGUES, Ana. O Museu Julio de Castilhos e o Ensino de História. Unisinos. São Leopoldo. 2009

Viola, Sólon Eduardo Annes. Direitos Humanos no Brasil. Abrindo as Portas Sob a Neblina In: SILVEIRA, R.M.G., DIAS, A.A., FERREIRA, L.F.G., FEITOSA, M.L.P.A.M, ZENAIDE, M.N.T. Educação em Direitos Humanos: Fundamentos Teórico-metodológicos. João Pessoa; Ed. Universitária, 2007