Cultura

Não deve espantar a imensidão de conceitos para esta palavra. É que a cultura é múltipla e está em contínuo processo. É como um peixe na água translúcida, que devemos pescar com as mãos nuas; sempre à vista, sempre conhecido, mas de difícil captura. Podemos, entretanto, dizer que a multiplicidade é uma de suas marcas mais evidentes, pois são múltiplos os seus criadores. Num outro plano, podemos entender essa multiplicidade também como decorrente da produção simbólica dos diferentes povos, nações e etnias. Um complicador (bem-vindo complicador) é que esses bens simbólicos por vezes encontram-se hibridizados, o que lhes assegura melhor potencial genético, à semelhança do que ocorre com os entes biológicos.
Outra perspectiva adequada é entender a cultura como processo. Cultura é um ente in fieri, sempre se transformando, sempre se alterando, metamorfoseando-se, não aceitando descrições estáticas ou submetidas a um padrão. Tentativas de “congelar” seu conceito, como, por exemplo, fez a Alemanha hitlerista, podem servir de perigoso apoio ideológico aos regimes totalitários, que sempre buscaram um índice unificador – e quase sempre situado num remoto passado.
Quando tratamos de políticas para a cultura, é essencial que essas duas vertentes sejam consideradas em conjunto, para preservar-se certa idoneidade conceitual.
Mas, por si mesmas, essas duas vertentes serão estéreis se não empolgadas por políticas adequadas a preservá-las. Assim, cabe pensar numa tríade operativa: a estética (consubstanciada no reconhecimento e na preservação dos elementos simbólicos, expressos nas chamadas belas-artes, mas também nas manifestações espontâneas das comunidades), a cidadã (em que o Estado a reconhece como direito de todos, transformando-se em agente estimulador da mais ampla circulação desses bens) e a econômica (na qual o agente público estabelecerá condições para que a cultura resulte na utilização desses itens para gerar emprego e renda).
Como se percebe, se o conceito de cultura é complexo, complexa também é a tarefa de encará-la como uma das áreas mais relevantes da ação pública, na busca de uma medida que se situe entre a omissão e a intervenção. Ação complexa, mas não impossível no âmbito da mentalidade estritamente contemporânea, que é ampla e dialógica.

Luiz Antônio Assis Brasil
Secretário de Estado da Cultura

Fonte: Site da Secretaria de Estado da Cultura